O que tem a ver a identificação de aviões na Segunda Guerra Mundial com o controle de materiais consignados em hospitais? Tem tudo a ver caso estejamos – e estamos – falando de RFID (Radio-Frequency Identification; em português, Identificação por Rádio Frequência). Essa tecnologia, que é bem simples na teoria, encontra inúmeras aplicações em diversos setores industriais e de serviços.
A história começa com o físico escocês Sir Robert Alexander Watson-Watt. Ele ajudou o Reino Unido a desenvolver seu sistema de radar, fundamental na época para identificar com antecedência ataques aéreos da aviação alemã. Mas quando os pontinhos apareciam no radar como saber se eram aviões nazistas ou aviões ingleses voltando de missões? Elementar, poderia ter dito Watson-Watt, que melhorou o sistema implantando transmissores nos aviões ingleses de modo a dar respostas diferentes ao radar.
Rastreamento de objetos e seres vivos
Aprimorada pelos conhecimentos científicos da atualidade, essa tecnologia militar da Segunda Guerra Mundial é hoje uma vantajosa ferramenta para controlar e identificar não somente objetos, mas até mesmo seres vivos. O princípio é o mesmo: uma antena joga sinais de radiofrequência num determinado espaço e recolhe as informações contidas nos transmissores (ou transceptores, como são chamados atualmente) espalhados por essa área. A diferença é que os transmissores, que hoje cabem numa etiqueta, estão muito mais poderosos e podem conter diversos dados essenciais para o rastreamento.
Quem trabalha com controle de estoque, entrada e saída de mercadorias, sabe a dedicação e o esforço necessários para manter tudo em ordem de maneira eficiente e organizada. Em supermercados, por exemplo, fazer um levantamento de todos os produtos disponíveis em loja é uma tarefa árdua, demorada e custosa, pois implica checar todos os itens um a um. E para isso é preciso, muitas vezes, pagar hora-extra a funcionários, já que é impossível fazer um levantamento desse tipo com o ponto de venda aberto e repleto de clientes.
Praticidade e controle
Mas com as etiquetas RFID isso tudo não é necessário. E mais: a tecnologia pode tornar até os caixas sobressalentes. Na teoria, já seria possível o cliente encher o carrinho de supermercado e ir direto para o carro. Ao passar pela porta do estabelecimento, o cliente teria todos os itens que escolheu identificados, contabilizados e precificados pelo sistema de radiofrequência, permitindo inclusive, por meio de outros aplicativos, a emissão de nota fiscal e o pagamento por cartão de crédito previamente cadastrado.
E sobre rastrear seres vivos? Segundo biólogos, a tecnologia RFID pode ajudar inclusive a preservação de espécies, uma vez que etiquetas inseridas em animais criados em cativeiros servem para localizar o bicho quando ele for solto na natureza e , portanto, verificar como está a adaptação ao habitat natural. Outra aplicação: animais domésticos perdidos poderiam ser facilmente encontrados. Já os donos que abandonassem seus pets poderiam ser responsabilizados.
Controle de materiais consignados em hospitais
Na área de saúde, o rastreamento por RFID de pessoas e objetos também vem sendo explorado. Uma das possibilidades é no controle de materiais consignados em hospitais. A gestão dessa área em unidades hospitalares tradicionais exige organização, disciplina e treinamento de equipe.
Quando bem executada, a consignação representa redução de custos para a instituição, pois a venda ocorre de acordo com a necessidade dos profissionais e pacientes. Mas todo rigor é necessário nessa área para evitar eventuais fraudes e esquemas duvidosos entre médicos, enfermeiros e fornecedores.
Pesquisa de artigos científicos sobre a RFID
A Universidade Federal de Sergipe, em artigo sobre o uso da RFID em sistemas hospitalares, fez uma pesquisa bibliográfica em bases de dados internacionais visando atualizar as informações disponíveis sobre a aplicação desta tecnologia. Um dos artigos internacionais citados na pesquisa sergipana analisou “o impacto e potencial de implementação do RFID na cadeia de suprimento de um hospital, visando determinar benefícios e barreiras para adoção”. A conclusão foi de que os hospitais que já adotaram a tecnologia têm registrado eficácia comprovada no rastreamento e monitoramento de itens.
Outro artigo analisado pelos pesquisadores da universidade tratou de averiguar “se o sistema RFID pode causar interferência eletromagnética nos equipamentos médicos usados nos hospitais”. E a resposta foi de que há, sim, uma distância mínima de instalação das antenas receptoras de RFID em relação a equipamentos médicos.
Capaz de trazer melhorias significativas
A conclusão da pesquisa bibliográfica realizada em Sergipe mostrou que a RFID, uma tecnologia que vem sendo empregada em hospitais há mais de uma década, “é capaz de trazer melhorias significativas, seja no gerenciamento de materiais e equipamentos ou de recursos humanos”.
No entanto, ressaltam os pesquisadores, é necessário amplo estudo, caso a caso, devido às particularidades de casa unidade hospitalar e ao fato de que falhas em tais ambientes de saúde “não podem ser admitidas, dado seu grande impacto negativo na vida dos pacientes”.